top of page

Por que as vítimas escondem os abusos?

  • Foto do escritor: Tainara Vasconcellos
    Tainara Vasconcellos
  • 27 de mar.
  • 5 min de leitura

Antes de tudo:

Quando o tema é abuso se.xual infantil, depois da situação descoberta muitos querem ser protagonistas e aparecer com soluções mágicas que poderiam ter feito diferença antes, mesmo que não dêem conta de resolver seus próprios problemas.


Não seja um profeta do acontecido! O foco deve ser acolher a vítima, conseguir ajuda profissional para ela (NÃO vale o líder religioso) e ser cauteloso para não falar coisas que colaborem para que ela se sentia ainda mais culpada pelo que houve do que já sente. É um momento muito delicado.


Além dos casos onde a vítima não sabia que estava sofrendo abuso (geralmente ocorre com crianças abusadas desde muito cedo) e da vergonha, o grande motivo de não relatarem o que estão passando é o



1) Medo de ser punida: 


Castigada, surrada, desprezada. 


Crianças que apanham de seus cuidadores principais desenvolvem o medo da punição, ao contrário do respeito pelo adulto. Como são punidas por seus erros, elas tentam minimizar toda possibilidade de serem alvos. Elas não confiam nos pais como pessoas que irão lhe proteger contra uma ameaça, pois em algum nível, eles também representam uma ameaça. Mas mesmo crianças que não apanham, podem ter medo de receber uma punição severa, por exemplo.


Assim, as crianças temem que os cuidadores a responsabilizem pelo abuso e a punam (psicológica ou fisicamente). 


2)  Medo de ser exposta


Crianças e adolescentes que têm limites da privacidade constantemente desrespeitados pelos cuidadores e são expostas para familiares, amigos e líderes religiosos sem o seu consentimento, podem não denunciar o abuso aos seus cuidadores pelo medo da vergonha e da exposição. 


Já não basta passar pela situação, ainda vai ter que lidar com críticas, palpites e olhares de terceiros? E sim, tios, avós e irmãos são terceiros. Pense em todas as vezes que você viu os cuidadores contando para os outros sobre algo constrangedor ou íntimo dos filhos como fazer xixi na cama, se limpar ou até menstruar pela primeira vez…


3) Medo do julgamento alheio


Crianças e adolescentes que são frequentemente julgados ou responsabilizados pelos erros de terceiros e são forçados a consertar a situação (pedindo desculpa ou sendo castigados por erros dos amigos, por exemplo), podem não contar sobre o abuso para os seus pais por medo de serem julgadas por eles e, assim, consideradas culpadas pelo que aconteceu.


Se a vítima acredita que irão dizer que ela pediu, facilitou, gostou ou qualquer outra coisa que pareça uma participação voluntária, ela não vai falar. Se acreditar que vai ser "investigada" para ter credibilidade, não vai falar. Se a vítima acredita que vão utilizar a religião para culpá-la ou para favorecer o abusador, ela também não vai falar. Se a vítima já viu os pais julgando alguma vítima, não vai falar. 


4) Medo de ser obrigada a perdoar


Somos uma sociedade cristã e, por isso, o perdão é uma das grandes máximas culturais. O que dá muito poder a quem age com violência e sabe que não vai ser punido continuar para agindo, principalmente na família.


Muitas vezes, vítimas de abuso se vêem sendo coagidas por parentes e amigos a relevar, minimizar e perdoar seu agressor. Pelos abusadores serem majoritariamente familiares, usam a máxima de que não se pode "destruir a família” e assim acobertam o abusador para manter o nome da família ou da religião imaculada para terceiros. Falam em nome de Deus para a amendrontar e a forçar "perdoar" (o que significa fingir que nada aconteceu), até que a vítima se sinta um fardo por contar a sua história e pedir justiça. Consequência: ela pode se revoltar ou se calar.


5) Medo de ser ignorada 


Em muitos casos, os cuidadores sabiam ou desconfiavam dos abusos mas ignoraram o caso, mantendo a vítima em posse do abusador sem nenhuma proteção, resistência ou, pior, entregando diretamente ou participando dos abusos.


Predadores se.x.uais são perversos e, muitos, sentem prazer em destruir pessoas e vínculos familiares.


Por medo de constatarem a negligência dos pais e a preferência pelo abusador e pelas aparências, muitas vítimas não contam sobre os abusos, pois é extremamente doloroso se sentir abandonada. Isso faz com que as vítimas, depois de serem ignoradas pelos cuidadores principais, não confiem mais em denunciar o abuso para terceiros porque têm medo de serem revitimizadas.


6) abusador machucar os familiares ou a si


Não é raro que os abusadores aterrorizem as vítimas com ameaças a seus familiares. Eles dizem que se a vítima falar, ele vai matá-los, tirar seus empregos ou casa, est.up.rar um irmão mais novo ou qualquer outro mal. A vítima se mantém em silêncio sobre os abusos numa tentativa de preservar a família.


A vítima também é ameaçada, mas nem sempre com uso de palavras. Pelo abuso, ela sente um medo paralisante do abusador. Teme ter mais algo tirado de si. Ex: Sua integridade física ou a vida. O abusador se coloca como superior à vítima e rouba parte da sexualidade dela. Isso afeta o senso de auto valor da vítima e ela teme ser ainda mais machucada, ficando em estado de hipervigilância.


7) Medo de prejudicar os pais


Crianças e adolescentes que consideram os pais frágeis ou pouco resistente podem se responsabilizar pelo seu cuidado e não contar sobre abusos sofridos. 

Elas geralmente escutam coisas como "você quer me matar", "não faz isso comigo que eu não aguento", "tá vendo, fulano, por sua causa sua mãe tá assim", "se acontecer alguma coisa com você eu morro", "eu não aguentaria". 


Se os filhos acreditam que são responsáveis por gerenciar as emoções de adultos, que eles não vão aguentar (vão morrer, se decepcionar, entrar em depressão, ter um infarto, que o pai vai culpar a mãe, que vão destruir a família) ou que vão presos se souberem, eles não irão falar. Vão se sacrificar para "salvar" os cuidadores do sofrimento. 


8) Medo de perder uma pessoa de "confiança".


Muitos abusadores são pessoas da confiança da criança: amigos, legais, encantadores, líderes carismáticos, familiares íntimos, dão agrados, têm "segredos"  e dão muito mais atenção a elas do que outros adultos e do que oferecem a outras crianças (gerando um sentimento de que são únicas para eles). Eles a fazem se sentir valorizadas, especiais, únicas.


Isso gera uma ambiguidade de sentimentos, pois quando a vítima percebe que há algo errado, não consegue entender como pode estar sendo abusada e se sentindo amada ao mesmo tempo e nem mesmo se desvencilhar.  Por temer ser invisível novamente, pela  carência e o medo da solidão, a vítima pode se calar por se achar indigna de receber algo melhor.


Assim, retorna o ciclo do medo. Pois a vítima vai ficar com vergonha dos julgamentos, de ter que perdoar, disso prejudicar a família e ficar quieta.

 
 
 

Comentarios


Ya no es posible comentar esta entrada. Contacta al propietario del sitio para obtener más información.
bottom of page